sexta-feira, 14 de setembro de 2012

É brincando que se aprende

(...) Congressos de educação: a gente pensa logo em professores, psicólogos, papers científicos, filósofos... Estive em um, na Itália, diferente, onde havia muitas crianças. E havia uma oficina em que um "mestre" ensinava às crianças a arte de fazer brinquedos. Um deles era um par de pregos grandes, tortos, entrelaçados que, se a gente for inteligente, consegue separar. Gastei uns bons 10 minutos lutando com os pregos, absorvido, inutilmente. De repente me perguntei: "Por que eu estava assim gastando o meu tempo com um par de pregos?" Eu lutava com os pregos pelo desafio. Eu queria provar que podia com eles... Repentinamente percebi que a primeira tarefa do professor é, a semelhança dos pregos, entortar a sua "disciplina" (ô palavra feia, imprópria para uma escola!) para transformá-la num brinquedo que desafie a inteligência do aluno. Pois não é isso que são a matemática, a física, a química, a biologia, a história, o português? Brinquedos, desafios à inteligência. Mas, para isso, é claro, é preciso que o professor saiba brincar e tenha uma cara de criança, ao ensinar. Porque cara feia não combina com brinquedo...

Extraído do livro Educação dos sentidos e mais..., de Rubem Alves, Verus Editora, 2005, página 66.